Vaidades iracêmicas



Todos os dias ela tomava a lição dos estudantes no último horário de aula. Funcionava assim: quem lia, passava para o próximo texto; quem não lia, ficava no mesmo texto e, de brinde, recebia anotações nos trechos onde a leitura ficava estacionada, com direito a data e tudo. Fiquei um bom tempo estacionado no texto “Menino Poti”, escrito por Ana Maria Machado. Quando compreendi a incrível lógica do sistema alfabético, venci aquele texto e desvendei o mistério da decifração e da cifração. Nunca mais esqueci o “Menino Poti” e muito menos a professora Iracema. 


Professor é bicho vaidoso! Acredito que a vaidade de todo professor é ser Iracema na vida de algum estudante, pois a imortalidade é devaneio predileto do humano consciente de sua finitude. Suponho, e posso estar equivocado, que professores querem o básico: uma remuneração graúda e um modesto lugar na memória e na alma dos pupilos. Não importa qual seja o objeto de ensino de um professor, sempre haverá um “Menino Poti” a ser decifrado pelos seus alunos – derivadas, ligações químicas, herança genética, interdisciplinaridade, pedagogia histórico-crítica, anatomia encefálica, teoria da relatividade e tudo o mais que dá nó em neurônio. 


A você, colega professor, e a você, colega professora, desejo que nunca lhe falte a “mania de Iracema” – o estímulo para ensinar e o prazer de ver alguém aprender, pois aí, penso eu, reside o sentido primeiro do magistério. Temos sido, lamentavelmente, assoberbados com tarefas outras que, aos poucos, vão nos privando das delícias que residem no cerne da atividade docente e azedando, paulatinamente, o apetite pelo nosso quefazer próprio. Que nesse dia de celebração coletiva e de confraternização docente, preservemos as nossas “vaidades iracêmicas”, pois elas nos ajudam a lembrar do que realmente importa. 


Feliz dia dos professores! 

Do colega vosso, Isaac Figueredo de Freitas


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