Ao
Excelentíssimo Senhor Governador
Jerônimo Rodrigues
Na noite de 23 de junho de 2024, Senhor do Bonfim, mais uma vez, foi palco de cenas lamentáveis de repressão a uma das suas mais tradicionais e importantes manifestações culturais: a Guerra de Espadas. Dezenas de viaturas, motos, cavalaria, bombas de gás
lacrimogênio e spray de pimenta resultaram no trágico cenário de crianças e idosos hospitalizados. Além disso, mandados de busca e apreensão e interceptações telefônicas arbitrários e visando manifestantes e defensores da tradição foram emitidos, tratando-nos como criminosos e membros de organizações criminosas.
Nos últimos anos, temos sido tratados como infratores com base na interpretação de uma
legislação que enquadra a espada como artefato explosivo. Este tratamento resultou em
enfrentamentos com as forças de segurança, inclusive com o triste episódio de uma jovem que perdeu a visão devido a uma bala de borracha.
A Guerra de Espadas é uma manifestação cultural que faz parte da história de Senhor do Bonfim. Para a maioria dos bonfinenses, o dia 23 de junho é o mais importante do ano, marcado pela celebração da vida com familiares e amigos, iluminados pelo brilho das espadas,
celebram a vida e as mais profundas relações socais em mesas fartas nas portas de suas casas.
Outros município baianos também cultivam essa prática cultural, inclusive em outros estados
nordestinos como Pernambuco e Sergipe, esse folguedo é uma festa secular e de grande importância social, emocional e financeira para os cidadãos baianos.
A Associação Cultural dos Espadeiros de Senhor do Bonfim (ACESB), embora não responsável
pela realização da Guerra de Espadas, se posiciona como defensora desta significativa
manifestação cultural. Respeitamos as leis e as decisões judiciais, mas não podemos compactuar com a forma repressiva que o Estado tem adotado.
Nosso objetivo é buscar, junto a todas as instituições envolvidas, um processo de regulamentação que preserve esta tradição e garanta a segurança pública. Propomos uma
agenda propositiva que inclui a criação de comitês de discussão com diversas autoridades e representantes da comunidade, a realização de audiências públicas para coletar sugestões, estudos de avaliação de riscos e desenvolvimento de planos de mitigação, diálogo com o Exército Brasileiro e municípios com experiências semelhantes, oferta de cursos de segurança, designação de áreas específicas para a prática, campanhas de conscientização, além de estudos de viabilidade econômica e esforços para o reconhecimento da Guerra de Espadas como patrimônio cultural municipal e estadual.
Desde o início da criminalização dessa manifestação cultural, temos visto o silêncio e a apatia do Poder Público. Tanto o Município quanto o Estado têm se omitido diante dos
acontecimentos. Solicitamos seu apoio, Governador, para que possamos avançar no processo
de regulamentação. Precisamos do suporte das Secretarias de Justiça e Direitos Humanos e da Secretaria de Cultura da Bahia.
Aguardamos ansiosamente sua resposta e ações concretas para proteger e regulamentar esta
tradição cultural tão valiosa para Senhor do Bonfim, garantido a prática segura, a geração de
emprego e renda e os diversos direitos dos nossos concidadãos.
Atenciosamente,
Alexsandro Barbosa
Presidente da ACESB
Confira ofício confirmando recebimento da carta dos espadeiros