por Marcos Cesário
Gilles, meu amigo, estava fraco e indefeso na cama de um hospital. O câncer já tinha tomado todo o seu intestino. A pneumonia estava avançando, e, Gilles, meu amigo, estava sofrendo muito.
Como combinado, com Denise sua filha, liguei para o celular de Denise e, ela passou o telefone para ele. A primeira coisa que lhe perguntei foi: Francês, como está sua luz? Com uma voz frágil, triste e mal equilibrada, Gilles respondeu: “A luz está se apagando, amigo”...
Falamos sobre muitas coisas ao telefone. Falamos sobre as coisas que sempre falamos e refletimos, juntos: Vida, morte, amor... e, depois de um certo tempo, seu corpo já frágil, ele, já muito cansado, começou a parar de falar, e, eu me apressei em me despedir dele, e, mais uma vez: lhe disse o quanto eu o admirava e o amava...
Gilles morreu.
Gilles, certas luzes, como a sua, nunca se apagam. Sua luz: continuará em nós. Gilles, amigo, mesmo agora, principalmente agora, depois de sua morte, a saudade que sinto de você: revela, ainda mais, a força e a lucidez de sua vida, de nossa amizade e de sua luz...
Gilles, amigo: sua luz está aqui por perto. Bem nítida e bem perto, bem perto.
Gilles, onde você estiver, guarde um lugar para mim. Deixe perto seu cigarro de palha. Prepare nosso café. Amigo, Francês, nos reencontraremos em algum início do que deve ser a morte.
Gilles, amigo, agora vou, posso, e até devo: te chorar, amigo...
O.B.S: O texto trata de uma reflexão e homenagem a Gilles Gros, um francês que viveu alguns anos no município de Jaguarari ( e também em Campo Formoso), que se dedicava a curar pessoas através da medicina alternativa. Ele faleceu ontem em Brasília.