O VELHO VIADUTO DA VIA FÉRREA: PRESERVAR OU MODERNIZAR?


Circula em Senhor do Bonfim, há algum tempo, o propósito de alargar o viaduto da Rede Férrea que faz a ligação entre a Grande Gamboa, a estação, e o restante da cidade. Argumentos não faltam para justificar tal iniciativa, sobretudo o apelo a razões de segurança e à necessidade de tornar mais ágil e largo o fluxo de veículos naquele histórico canal de comunicação de nossa terra. Mas, tais supostas razões, entre outras, justificariam uma intervenção tão descaracterizadora?

Cremos que a concretização de tal projeto estaria na contramão de nossa cultura e de nossa história, privando-nos de um monumento riquíssimo que se mantém como uma testemunha viva dos áureos tempos da Estrada de Ferro, em que olhares e pés se dirigiam várias vezes ao dia ao “outro lado da cidade”, esperando trens que chegavam da capital, de Juazeiro ou da Grota, ou neles embarcando, em saída, as nossas malas de couro e os nossos sonhos.

A desmobilização da linha férrea, a substituição da antiga “Rede Ferroviária Federal Leste Brasileiro (RFFSA)” por uma outra empresa apenas interessada em transportar minérios, sem maiores compromissos com o transporte de passageiros, foi um erro imperdoável do governo brasileiro, e arrancou lágrimas e protestos de nossa gente, sobretudo de centenas de ferroviários, que deram vida a grande parte da Bahia, em cada pequena estação onde o apito da Maria Fumaça se fazia ouvir.

Além do mais, há todo um simbolismo, uma magia, uma cultura indizível nas velhas escadarias, nos paredões, no viaduto e na velha Estação, com seus galpões em ruína ou fechados, naquele belo e representativo sítio de Senhor do Bonfim. O conjunto arquitetônico que divide e une a cidade ao mundo inesquecível do trem de ferro e da histórica Gamboa, e dentro dele, o Velho Viaduto da Leste, surgem como espaços sagrados, intocáveis, a memória que precisa ser preservada em todas as suas características originais. Um Viaduto estreito, tortuoso, de pouca altura, mas que retrata dezenas de anos de um passado imexível, ao qual nos cabe contemplar e afagar.

Se a preocupação maior é o acesso mais cômodo ao grande e histórico bairro, que coloquemos em campo uma competente equipe de engenheiros, arquitetos e especialistas, para que seja encontrado um ponto de acesso ideal, sem intervenções no atual e histórico viaduto, uma testemunha viva de um passado que não pode morrer, por mais nos alcance a modernidade. E é preciso ir mais além, que seja tombado como um importante patrimônio histórico e cultural de Senhor do Bonfim e da Bahia, o invejável conjunto que mantém vivos a Gamboa e o que sobrou do Trem de Ferro, do Trem “Noturno para a Bahia”, do “Trem da Grota” e do “Trem Bonfim-Juazeiro”: as belas escadarias, o imponente paredão, e o singelo Viaduto. Entre o passado a ser preservado, e a modernidade descaracterizadora, devemos ficar, sem sombra de dúvidas, com a primeira opção.
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Senhor do Bonfim, 05 de agosto de 2015
Paulo Machado
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