No dia 02 de julho do corrente, a cidade de Caém tornou-se pequena para as centenas e pessoas que lá estavam para celebrar uma bela história de vida: cinquenta anos de sacerdócio de um homem de Deus que deixou a sua terra para fazer-se um com os brasileiros, sobretudo com os mais pobres, os mais simples, os mais excluídos da sociedade. Ordenado padre na Itália, sua terra natal, aos 04 de julho de 1965, chegou a Senhor do Bonfim a 27 de setembro de 1966, com 26 anos de idade, juntamente com dois outros padres: Pe. Carlos Gabanelli, que seria pároco em Queimadas e Pe. Sandro Vespasiani que assumiria a paróquia de Itiuba. O convite do então bispo diocesano Dom Antonio Mendonça Monteiro traria à Diocese de Bonfim um padre aguerrido, identificado com o espírito missionário da época e que fazia das proféticas palavras do livro do êxodo o lema de sua ação pastoral:
Iahweh disse: Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu grito por causa de seus opressores; pois eu conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e fazê-lo subir desta terra para uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel(Ex 3,7-8).
Aprendendo, como ele confessou, a ser padre na Paróquia de Jaguarari, tornou-se um com os mais simples, sobretudo com os agricultores. Líder da Pastoral da Terra, fundou a Comissão Pastoral da Terra (CPT), idealizou junto com líderes atuantes na Diocese a “Missão da Terra” e foi um dos principais responsáveis pela formação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBS) no território. A Igreja vivia então, na década de 70, momentos de grande organização popular, dando suporte a um povo sofrido e que vinha sendo secularmente abandonado e explorado. Precisamos escrever e contar estes momentos em que a Diocese de Bonfim (Dom Jairo Ruy Matos), em conjunto com as Dioceses de Juazeiro (Dom José Rodrigues) e de Rui Barbosa (Dom Matias) construíram no norte da Bahia uma Igreja atuante, engajada, transformadora de uma sociedade marcada pela desigualdade e pela exploração social.
Cabelos embranquecidos, Pe. Luis Tonetto soube construir uma vida sacerdotal bem de acordo com o belo canto profético que foi cantado no início da missa jubilar:
‘Antes que eu te formasse no ventre de tua mãe,
Antes que tu nascesses, te conhecia e te consagrei.
Para ser meu profeta entre as nações eu te escolhi,
Irás onde enviar-te e o que te mando proclamarás!
Tenho que gritar, tenho que arriscar,
Ai de mim se não o faço!
Como escapar de ti, como calar,
Se tua voz arde em meu peito?
Tenho que andar, tenho que lutar,
Ai de mim se não o faço!
Como escapar de ti, como calar,
Se tua voz arde em meu peito?
Não temas arriscar-te, porque contigo eu estarei,
Não temas anunciar-me, por tua boca eu falarei.
Hoje te dou meu povo, para arrancar e demolir,
Para edificar, construirás e plantarás!
Deixa os teus irmãos, deixa teu pai e tua mãe,
Deixa enfim teu lar, porque a terra gritando está.
Nada tragas contigo, porque a teu lado estarei;
É hora de lutar, porque meu povo sofrendo está’.
Um grande profeta está entre nós. Na verdade, sempre esteve entre nós. Pe. Luis Tonetto, um corajoso homem de Deus, um valente servidor de todos, um construtor do Reino e da Libertação de Deus no meio de seu povo! O refrão do homem enviado porn Deus coroa o dom que fez de si mesmo em favor de todos nós:
"Ai de mim se não o faço!
Como escapar de ti, como calar,
Se tua voz arde em meu peito?
Tenho que andar, tenho que lutar,
Ai de mim se não o faço!
Como escapar de ti, como calar,
Se tua voz arde em meu peito?"
Paulo Machado
Senhor do Bonfim, 8 de julho de 2015