DEPUTADO BOBÔ - AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE O ESPORTE FEMININO


Debate sobre esporte feminino lota salas da Assembleia Legislativa

Mais uma vez, uma atividade da Comissão de Desporto, Paradesporto e Lazer da Assembleia Legislativa – realizada em conjunto com a Comissão dos Direitos da Mulher – teve que dispor de duas salas para acolher o público convidado. Mais de 100 pessoas – entre alunos de Educação Física, atletas, dirigentes de federações do esporte amador e representantes de entidades esportivas – compareceram, na manhã desta quarta (13), à audiência pública que debateu os desafios do esporte feminino.

Na abertura, o deputado estadual Bobô (PCdoB), presidente da Comissão, destacou a importância de o esporte ser algo inclusivo e participativo, além de proporcionar igualdade entre as pessoas. “As mulheres avançaram em todos os segmentos da sociedade, inclusive sendo protagonistas. Mas, no esporte ainda lutam muito. É verdade que algumas modalidades evoluíram com programas dos governos federal, estadual e municipais”, pontuou.

Segundo o parlamentar, a participação das entidades nos eventos são importantes para fortalecer o esporte e torná-lo uma política de Estado. “Vamos colher muitos frutos mais tarde. Agora, os esportistas tem um espaço no Parlamento para ajudar a construirmos algo novo e uma sociedade melhor. Alguns passos no futebol estão sendo dados. O governo federal lançou uma Medida Provisória para renegociar as dívidas dos clubes, exigindo como legado social investimento no futebol feminino. O papel da imprensa é fundamental, aliado a iniciativas do setor privado. Vamos conversar com a Fieb (Federação das Indústrias da Bahia) e setores empresariais sobre o financiamento do esporte feminino. Nosso desafio é melhorar orçamento público para o esporte”, defendeu Bobô.

A presidenta da Comissão dos Direitos da Mulher, deputada Fabíola Mansur (PSB) considerou importante o ato conjunto para dar visibilidade ao esporte feminino. “Os governos precisam implementar mais políticas públicas para o segmento. Aos 15 anos, jogava futebol e sofria preconceitos, mas houve avanços. Parabéns Bobô pela criação da comissão, feito relevante. Precisamos criar um grupo trabalho com desportistas e gestores para pensar futuras ações”, enfatizou.



Empresário do futebol, o deputado Manassés (PSB) destacou que nunca as pessoas que fazem esporte tiveram voz. “A comissão é uma ferramenta para dar força às entidades e dirigentes que estão à frente do esporte. Vejo muito envolvimento dos deputados com os temas debatidos na comissão. Estamos dando passos importantes para o esporte amador e o profissional. Temos que colocar o esporte como um bom negócio e uma ferramenta de inclusão social”, frisou.

A deputada Fátima Nunes (PT) ressaltou que o esporte é importante para promover encontro de pessoas e reforçar relações sociais. “Penso que é importante criar a Secretaria de Esporte no governo. Várias competições no interior, como a Copa do Caju, que precisam do apoio dos governos municipais e estadual", ressaltou, afirmando que as sugestões das audiências ajudam a comissão a fazer seu plano de trabalho.

Diagnóstico e alternativas

Representando a Federação Baiana de Futebol (FBF), a diretora técnica Taíse Galvão destacou que a entidade é uma das poucas que realizam campeonato feminino. “A federação tendo dado apoio aos clubes que possuem futebol feminino, isentando-os das taxas para participar das competições. Estamos buscando apoio na CBF e na Fifa e fazer competições regionais e estimular surgimento de mais times”, pontuou.

Taíse informou que a CBF solicitou que as federações façam um diagnóstico do futebol feminino nos estados para ser apresentado nos dias 19 e 20 de maio, durante um seminário o tema, que ouvirá federações, clubes e gestores esportivos. “A audiência mostra que podemos mudar essa realidade difícil. A Bahia tem se destacado. O presidente da FBF, Ednaldo Rodrigues chefiará a delegação brasileira no campeonato mundial de clubes da Fifa. É preciso maior interesse do poder público e da imprensa sobre o futebol feminino”, afirmou.

Técnico de futebol feminino do Bahia, André Beijoca lembrou que o legado da Copa do Mundo para os estados ainda não se manifestou em ações concretas para o esporte, especialmente para o feminino. “Falta maior interação entre FBF e clubes. Quando procuro patrocínio, me dizem que futebol feminino não tem visibilidade. O custo é alto para quem não tem apoio da iniciativa privada”, criticou, defendendo que a imprensa deve dar mais destaque as competições que são realizadas.

Para José Pinheiro, treinador da atleta paraolímpica Angelina (maratona), se o esporte coletivo já tem dificuldades, para o esporte individual ainda é mais complicado. “Minha atleta sofre com falta de apoio. Não tem cadeira de fibra (mais leve) para competir em igualdade de condições com as outras atletas. Falta apoio e patrocínio”, reclamou.

Secretaria e fiscalização

Para Marcos Menezes, da Federação Baiana de Karatê Shotokan, é importante a Secretaria de Esporte. “Precisamos reunir as federações e a Comissão de Desporto para fazer documento e pedir ao governador esse pleito. Minha atleta Emile Laranjeiras é campeã mundial graças ao apoio da Sudesb, que tem poucos recursos. Temos que chamar atenção das empresas para usarem melhor o programa Faz Atleta. Temos que fazer um ranking dos atletas para estimulá-las a investir”, declarou.

O professor da Ufba, Wilson ressaltou que é importante a escuta popular pela comissão. “Devemos fazer novas discussões em um dia melhor com mulheres atletas para exporem suas demandas. É importante não focar apenas no futebol, mas ver todas as modalidades e o esporte educacional. É papel da Assembleia fiscalizar os repasses públicos para o esporte na Bahia”, frisou. Presidente da Unisport, que congregas as federações, José Sandes lembrou que atletas e entidades sofrem humilhações para realizar suas atividades e que falta maior apoio dos poderes públicos para o esporte feminino.

Francisco Cardoso, técnico de futebol feminino do Vitória e do Centro de Formação de Futebol da Bahia, falou que voltou ao Brasil, depois morar 12 anos nos EUA, para devolver o que o futebol lhe deu de melhor. “Represento aqui 300 meninas. Temos sete atletas talentosas que poderiam estar na Seleção Brasileira, mas não tem apoio. A falta de apoio é tanta que não vamos disputar uma competição em Maceió por falta de recursos. Poderemos mudar essa situação se pensarmos mais coletivamente”, afirmou.

Para Hildebrando Filho, da Confraria da Educação Física, as entidades precisam se organizar melhor para mudar a realidade. “Vamos trabalhar mais coletivamente e combater as discriminações contra esporte feminino”, defendeu, convidando as pessoas para um debate sobre o tema na UCSal, em Pituaçu.

Professor de arbitragem e responsável por um projeto que trabalha garotos entre 10 e 17 anos, Rildo Góes ressaltou que conseguiu apoio da CBF e da FBF para desenvolver a atividade. “Mesmo assim, vemos que outros estados têm dado mais apoio ao esporte que a Bahia. O futebol feminino precisa formar árbitros também”, indicou.

Políticas públicas e profissionalização

Com 17 anos trabalhando com futebol feminino, a professora Laura parabenizou as comissões pela audiência. “É a primeira vez que temos um debate desses na Bahia. Dirijo o time Arvoredo, mas e tem muitos clubes nas periferias de Salvador que precisam de apoio. Temos muitas meninas talentosas podem chegar até a Seleção Brasileira. É só uma questão de oportunidade”, frisou.

O professor Ney, dirigente da Sudesb destacou o apoio que o órgão tem dado ao futebol feminino. “Realizamos em Salvador a Copa Interbairros, incluindo jogos femininos. Estamos preparando uma competição só feminina e estruturando a Copa Indígena. Além disso, realizamos copas sub 15 e sub 17 em várias regiões, com jogos femininos nas preliminares. A criação da Comissão de Desporto foi importante para ajudar nesse processo. Estamos evoluindo para criar a Secretaria.”

Atuante na defesa do esporte em Salvador, o vereador Everaldo Augusto (PCdoB) parabenizou os batalhadores do esporte na Bahia. “Vocês dedicam suas vidas para tornar o esporte política de Estado. É preciso retomar as conferências de esporte, que foram passos importantes nessa luta. É essencial mais políticas públicas e reduzir a burocracia para que as entidades tenham acesso aos projetos e recursos públicos”, disse, criticando a Prefeitura de Salvador por não ter uma política municipal de esporte. “Falta vontade política e planejamento. Como não bastasse, ainda cobra taxas abusivas para se realizar uma atividade na capital”, denunciou.

A estudante da Ufba e atleta de basquete Adriana Landrilho falou da pesquisa que realizou, observando que o basquete feminino está extinto na capital. “Temos que incentivar práticas esportivas nas escolas para estimular crianças e jovens a gostarem de esporte. A universidade não tem quadras cobertas e outros espaços para praticar a modalidade. As meninas precisam ter atrativos para praticar esporte”, ressaltou.

Integrante da Secretaria de Esporte de Camaçari, Dilma Mendes lembrou que Formiga (ex-jogadora da Seleção Brasileira) saiu de um projeto social ligado ao futebol. “Trabalhamos para tirar meninas das drogas e para evitar a gravidez na adolescência. Recursos têm, mas, às vezes, não chegam até a base”, criticou, exaltando o Bolsa Atleta, que ajuda às meninas a fazerem faculdade, e que o futebol feminino passou a ter voz com a Comissão de Desporto.

Para o presidente do Conselho Regional de Educação Física (Cref), Cesar Vieira, é triste o quadro do esporte na Bahia. “É preciso criar urgentemente a secretaria estadual, profissionalizar mais as gestões nas federações e mais políticas públicas. Os times precisam se tornar clubes deve haver mais união entre poderes públicos, universidades e o Sistema S, que ficam com suas instalações ociosas”, pontuou.

Apoio de prefeituras e empresas

O professor Carlos Dórea, da Federação de Futsal Feminino ressaltou as dificuldades da modalidade. “Temos que pagar para fazer um campeonato de três meses e muitas atletas não tinham dinheiro para chegar ao local da competição”, disse.

Professor de uma escolhinha em Cajazeiras, Cristinaldo enfatizou a importância de se fazer leis para grandes empresas terem benefícios e apoiarem o esporte nas comunidades onde atuam. O apoio da Sudesb foi destacado por Artur Dourado, de Irecê. “Fizemos a Copa do Sertão e estamos preparando uma competição feminina. Temos uma média de público de 3 mil pessoas nas atividades que realizamos”, comemorou.

Uma figura querida do esporte amador, o professor Pachequinho, do município de Caem, falou do seu projeto com 260 jovens e a falta de apoio de empresas e das prefeituras baianas para o esporte em geral. A Jogadora Cleide Marlos, conhecida como Chocolate, pediu que se incentive a presença de olheiros nos campeonatos femininos.

O vereador Sargento Vinícius, de Santo Antônio de Jesus, destacou que é essencial incentivar os jogos estudantis no interior. Ele estava acompanhado de duas atletas vice-campeãs da Copa Metropolitana, Graze e Isisleide.

Para Edion Junior, presidente da Federação Baiana de Rugby, o esporte de alto rendimento é farol para muitos, mas é preciso política e planejamento para prática esportiva nas cidades. “Em Salvador, temos mulheres praticando Rugby, mas podem perder o espaço na praça da Boca do Rio. “Tentamos dialogar com a prefeitura, mas sem sucesso. Os EUA deram exemplo ao fomentar esporte nas escolas e universidades”, frisou.

Ex-jogador do Bahia e presidente do time feminino Juventude, de Vitória da Conquista, Claudir lembrou que o fato de a filha se tornar atleta o fez criar o time. “Minha maior realização não foi ser campeão brasileiro, mas é conduzir um projeto social que ajuda crianças e jovens a vencerem na vida. Parabéns a Comissão de Desporto pelo trabalho. Temos que ver o crescimento do esporte como um todo e não apenas uma modalidade”, afirmou.

Cláudio Mota - REG 4811/SRTE-BA
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