Nesta minha vida já passei por sete eleições e dois plebiscitos, e, com o passar dos anos e do engajamento político, sempre me questionei (e acho que todos que tem interesse no assunto já se questionou também) o que levava as pessoas a escolher este ou aquele candidato, mesmo em democracias canhestras como a do Brasil. Aliás, principalmente no Brasil por motivos óbvios.
Antes de entrar no mérito de razões temos que lembrar quais as responsabilidades de nossos governantes, sem grandes aprofundamentos mesmo, aquelas coisas que são básicas a ponto de serem compreendidas até mesmo pelo menos instruído dos eleitores. Confiamos aos legisladores que elegemos (Vereadores) a elaboração de leis e políticas que regem nosso município, além das destinações de orçamento. Aos prefeitos cabe a gestão e a execução (daí Poder Executivo) destas políticas, por meio de suas secretarias.
Os eleitos, assim como qualquer pessoa que trabalha, vai tomar ações e decisões de acordo com suas convicções, suas ideologias (mesmo políticos corruptos são assim, mesmo que o que ele “acredite” seja ilegal). E aí políticas para saúde, segurança, trabalho, educação, transportes, saneamento, obras, assistência social, etc. ficam com a cara não só de quem ocupa o cargo do executivo, mas também do legislativo e, de certa forma do judiciário, seja criação de políticas públicas de qualidade, construção de estruturas ou superfaturamento e cobrança de propina.
Ou seja, antes de irmos às urnas nos dão três meses de campanha não à toa. É o tempo para os candidatos se divulgarem e dizerem o que pretendem (ou não) fazer caso sendo eleitos. E cabe a nós refletir e avaliar quais os projetos do cidadão, quais as bandeiras que ele levanta e quem mais está junto a ele (provavelmente são estas pessoas que estarão junto à pessoa depois de eleito). Se pudermos ter certeza que o candidato merece nossa confiança de que ele vai trabalhar seriamente pela população e pela cidade aí sim nos lhe honramos com nossos votos.
E este é um ponto crucialíssimo: elegemos pessoas que comandarão os destinos de nossa cidade, então temos que pensar o que eles farão pelo coletivo, por todos nós.
Mas será que é com este pensamento que as pessoas vão às urnas no Brasil?
Qual o seu interesse por política?
Você chega nos seus amigos e bota a política no assunto da conversa? (Não vale quando a conversa é numa mesa de bar depois de “n” cervejas).
Não sei a sua resposta, mas quando entro no assunto com outras pessoas elas geralmente evitam ou insistem para mudar de assunto. Acham chato ou temem exaltações por conta de ideologias, entre outras razões.
Fiz estágio no CEDOC da UnB e tive contato com arquivos de um Centro que foi criado na década de 80 para fazer estudos para subsidiar a criação da constituição de 88. Entre centenas de publicações acumuladas na época estão guardadas cartas de populares e entidades da sociedade civil que enviaram propostas à Presidência da República para colaborar na elaboração da Carta Magna.Muitas cartas e com um sentimento forte de participação e de pertencimento a um momento histórico único no Brasil.
Infelizmente o comportamento de vossas excelências fez com que este sentimento se desvanecesse no tempo. O povo até saiu às ruas com as caras pintadas para protestar contra o Collor, mas depois de tanta safadeza pensaram que se fossem sair às ruas toda vez que pipocasse mais um escândalo na política iriam ter que fazer isso praticamente todo dia. Aí num círculo vicioso à medida que a passividade das pessoas aumentava, mais este tipo de político passou a se sentir à vontade para tratar a coisa pública como se privada fosse (com trocadilho, por favor).
Hoje quando chega o período das eleições não é mais como antigamente que as pessoas pegavam bandeiras, adesivos, camisetas e o escambau para defenderem os políticos que se queria defender. É difícil achar quem faça campanha por alguém voluntariamente ou por alguma causa ou ideologia – só se ve agora em partidos. Para se obter votos o candidato paga – isso mesmo, PAGA – pessoas para ficar agitando bandeira para ele lhe representar em comunidades e povoados. É o chamado cabo eleitoral. Aí a pessoa que é contratada para tal chama um amigo que tá desempregado para ganhar uns trocados cuidando de cavaletes, e esse vai e chama outra pessoa para colar o adesivo do fulano no carro, que chama outra pessoa… e forma uma pirâmide de pessoas que ganham uns trocados, ficam agradecidos ao candidato e acabam enchendo eles de votos. Não precisa ser necessariamente fazendo estas coisas, mas em troca de favores direta ou indiretamente ligados às eleições estão “se vendendo”, literalmente.
E pelo fato de a pessoa estar fazendo “algo”, acaba ficando como se fosse um emprego, e não compra de votos proprimente dita. Por isso para alguns candidatos não vale mais a pena fazer panfletagem, corpo-a-corpo, debates, comícios, nada disso, o que vale agora é abrir cômitês – um atrás do outro – para poder guardar e distribuir o material de campanha pra não dizer que estão distribuindo outra coisa.
Hoje em dia é um fato, ninguém se elege para ficar rico, pois só se elege quem tem muito, mas muito dinheiro para investir na campanha com estes “novos métodos” de conquistar votos. Porque quem conquista votos deste jeito vai ganhar muito mais quanto estiver no poder.
O pior de tudo é a mentalidade do eleitor moderno, que na verdade age com uma lógica parecida com a da república velha: a pessoa vota naquela pessoa que vai lhe dar mais vantagens pessoais, ou no cara que é o que tá sendo apoiado pelo conhecido que é candidato por outro cargo, ou no cara que sempre ajuda a familia do “cidadão” com alguma coisinha aqui e ali. O que ele fez de errado ou que ele vai fazer pouco importa, ninguém liga mesmo, todos são ladrões mesmo?
Igualar todos num saco só para não parecer que é puxa-saco de alguma corrente dá nisso. Mas também hoje em dia dá até vergonha dizer que se apoia algum candidato a vereador, por cota de como se faz política hoje em dia.
E é por conta disso que políticos com a ficha imunda estão sempre ganhando eleições e se mantendo na frente das pesquisas – até estas passíveis de suspeição. E casos de corrupção nunca abalam tais campanhas.
Pois voto comprado nunca muda de opinião.
Por: Clébio Júnior
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